Opinião de Luís Filipe Silva

Estamos perante um fenómeno único na História, não só da literatura fantástica nacional como da própria literatura portuguesa: temos finalmente o nosso detetive do oculto! Um personagem contemporâneo das invenções de Le Fanu, Blackwood, e do próprio Conan Doyle, na sua vertente mística. Habitante de finais do século XIX, numa época em que o mundo albergava ainda recantos desconhecidos, capazes de conter mistérios insondáveis para a alma humana – recantos que, hoje em dia, se encontram digitalizados e decifrados, por algoritmos talvez ainda mais inumanos que os monstros de então.

Benjamim Tormenta é o anjo caído por excelência, o protagonista imperfeito que, por não conhecer o seu passado, não controla o seu futuro, e vive cada dia em permanente luta. Ainda assim, sobrevive, navega pela rotina das horas, ajuda a sociedade portuguesa, ganha afinal o seu pão como todos nós (não há mal tão grande que não ceda lugar aos comezinhos compromissos do quotidiano). Nas suas andanças, somos conduzidos por uma viagem ao submundo lisboeta que se mostra povoado de almas penadas e gentes não menos condenadas à desgraça, revelando que algures sob a superfície, em que todos somos marionetas da vontade alheia, há quem caia vítima de jogos de poder ancestrais, desencadeando batalhas derradeiras, mesmo aqui ao lado, nas ruas que conhecemos e nas casas por onde passamos.

—Luís Filipe Silva, autor de Terrarium e Galxmente

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